CRISES INFINITAS por Sama e Luísa Sequeira










































Nos anos 80 os criadores Marv Wolfman e George Perez abraçaram a hercúlea missão de organizar o elenco e a cronologia da editora americana, Detective Comics. Crisis on Infinite Earths era o título da saga em BD, que tinha como objectivo organizar as linhas narrativas, além de estabelecer novas origens para os personagens da editora, como: Superman, Batman e Wonder Woman entre outros, que existiam em várias versões, em realidades paralelas, compreendendo um multiverso de possibilidades temporais. Numa leitura análoga, podemos identificar algumas similaridades nas crises do capitalismo e seus efeitos… Como por exemplo, sua versão utópica representada nas democracias liberais e suas versões sombrias no terceiro mundo. A explicação para isso, chega-nos através das narrativas dos media, das corporações, dos políticos e até mesmo por parte da comunidade intelectual, que para nos impingir suas interpretações deste fenómeno contemporâneo, que é a condição sine qua non de permanente estado de crise do Capitalismo, criam as mais espetaculares estórias para justificá-la. As análises, quase sempre feitas através de um ponto de vista hegemónico, no qual estamos todos submetidos e integrados, ou como actores, ou como agentes passivos, são nos impostas como hipóteses de soluções para as Crises. Realidades paralelas ocupando o mesmo mundo numa miríade de possibilidades pseudo-utópicas, que sempre nos afastam da questão fundamental, que é o contínuo processo de precarização do trabalho, aprofundamento do abismo social em nome do capital e a progressiva (des)humanização das pessoas, como efeito do impacto Neoliberal na vida de todos e no próprio planeta.

Os artistas, Sama e Luísa Sequeira, que já desenvolvem um trabalho no âmbito artístico e experimental em parceria há alguns anos, apresentam no sput&nik, a exposição: CRISES INFINITAS. Um conjunto de peças entre: desenhos, vídeos, objetos e pinturas reunidos com o propósito de fazer-nos reflectir sobre o impacto deste ataque estético hegemónico na periferia do chamado mundo livre e seus reflexos e como nós, meros humanos respondemos contra isso usando o humor, a apropriação e a crítica social através de uma releitura poética do género da ficção científica.

Sput&Nik the Window - Maio de 2019