Mãe Preta no dia 8 de março


















De modo geral a vida tem se tornado cada vez mais dura…
Dura para os discípulos do capital, que têm de passar cada vez mais o tempo de suas vidas deprimidas e esvaziadas de sentido em gaiolas seguras e controladas, úteros de aço e vidro frio que não reconhecem suas crias a não ser pelos códigos de seus cartões de plástico. Mas, a vida pode ainda ser mais dura para aqueles que nem gaiolas possuem! Vida bem dura para aqueles que não aparecem no Google Earth, nem nos comerciais, mas são reconhecidos pelos drones como alvos… Dura vida também para os que são bombardeados, para os que fogem da fome, do desemprego, das perseguições religiosas, políticas e das mais variadas formas de violência... Mas sem querer estragar as celebrações deste dia especial, lembro-vos que a vida é mais dura ainda para as mulheres, que na ordem destes acontecimentos brutais, são sempre as mais expostas em qualquer nível desta escala de eventos hediondos… E nesta sequência de desgraças, a existência consegue ficar ainda mais difícil para aquelas que se atreveram a nascer com a pele escura. Para elas, são reservados sempre os fardos mais pesados e os espinhos mais pontiagudos… Ainda não há nome para esta covarde manifestação de ódio que combina racismo com misoginia. No entanto, toda mulher negra é um pouco a encarnação da nossa história e a última linha de resistência da nossa espécie. Tenha você pele e olhos claros, sardas, cabelo liso ou dourado, a Mãe Preta é a mãe de todos nós. Ela, é o ser humano primordial. Se para os monoteístas, o Homem foi criado a imagem e semelhança de Deus, este Deus é uma mulher negra, que continua a ser sacrificada diariamente numa vã tentativa de expurgar nossos pecados.